Em dois meses, polícia
registra três ataques de grupos neonazistas no RS
Em Caxias do Sul, em janeiro, um jovem de 17 anos
foi esfaqueado.
Somente nos dois primeiros meses de 2012, a polícia
registrou três ataques de grupos neonazistas com vítimas no Rio Grande do Sul. Além de Porto Alegre, as ações também ocorreram em
Caxias do Sul, na Serra, onde um jovem de 17 anos foi esfaqueado no dia 15 de
janeiro. Os grupos não são novidade no estado. Desde 2002, foram diversos
materiais apreendidos e pelo menos 35 pessoas indiciadas. Um dos casos mais
violentos foi o atentado contra jovens judeus que foram esfaqueados em um bar
de Porto Alegre, em 2005.
A reportagem da RBS TV localizou a família do
menino agredido em Caxias, mas eles não quiseram gravar entrevistas, como medo
de novos ataques. "Além do adolescente que foi identificado e que
formalizou um registro de ocorrência, temos notícia de outro que foi agredido
naquele mesmo dia. Estamos efetuando diligências no sentido de identificar este
jovem (agressor)", diz a delegada Suely Rech, da Polícia Civil.
No dia seguinte às agressões, materiais como facas, bastão retrátil e
soqueiras, uma delas com o símbolo da cruz de ferro, uma honraria militar usada
pelos nazistas durante a Segunda Guerra, foram apreendidos. Ainda em Caxias do Sul, uma pichação em um muro
marca um território. Segundo os moradores do bairro Santa Lúcia, as marcas
foram deixadas depois de uma festa no início do ano. Homens de preto e com a
cabeça raspada faziam uma comemoração.
"O movimento neonazista é cíclico. Eles partem
para ação, há uma comunidade, onde se encontra toda uma manifestação. Também
tem a imprensa registrando, então eles recuam. Deixam passar algum tempo e
voltam", comenta Jair Kruschke, do Movimento de Justiça e Direitos
Humanos.
Para o delegado Paulo César Jardim, que acompanha
os neonazistas no estado há mais de 10 anos, é preocupante a nova geração
destes grupos. "Eles adoram decorar o corpo com inúmeras tatuagens, adoram
fazer pose, tirar fotografias mostrando que são machões. Mas quando vamos
conversar, dialogar sobre ideologia, alguns livros, algumas obras, eles se
perdem. Eles não sabem conversar sobre aquilo que eles dizem que
acreditam", diz.
Em Porto Alegre, na madrugada do último dia 4 de
fevereiro, câmeras de segurança registraram grande movimentação em frente a um
bar na Avenida Independência, região central da cidade. Em seguida, foi
verificada uma correria e o início de uma briga. "Era um rapaz franzino,
que estava com um skate na mão, usava dreads no cabelo, devia
ter uns 18, 19 anos. Ele foi agredido por um grupo de 5, 6, até 7 pessoas
grandes, de cabeça raspada, que batiam nele covardemente, todos ao mesmo tempo,
pelas costas", conta uma testemunha que não se identifica.
Esta mesma testemunha também assistiu a uma outra
cena que assustou muita gente na mesma noite. "Eles foram andando pela
Independência e começaram a bater no peito, esticar o braço e gritar heil,
heil, heil. Também gritavam Porto Alegre é nossa e coisas do tipo. Para mim foi
ali o momento que ficou claro o que estava acontecendo", acrescenta o
jovem.
Na sequência de ataques deste ano, o que chama a
atenção da polícia são os laços com uma organização internacional e a ousadia
dos neonazistas gaúchos ao revelar a conexão. O grupo que está agindo na Serra
e em Porto Alegre prega o ódio e racismo, e que se espalha por todo o mundo, a Blood
and Honour (Sangue e Honra). No site da organização, imagens indicam a
ligação: neonazistas gaúchos, chamados de Divisão do Sul, que chegam a substituir
a suástica pelo brasão da bandeira do estado.
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